sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ventilação Líquida: da ficção à realidade


Há décadas a respiração por meios liquidos fascinam a humanidade, mas será que existe uma possibilidade real de atingirmos esse objetivo?



A resposta é simples: sim, para campos de pesquisas médicas, principalmente. A idéia de respirar em meio a substâncias líquidas aparece na literatura médica no final da Primeira Guerra Mundial, o objetivo era investigar a fisiologia pulmonar a partir da introdução desses liquidos no interior dos pulmões, mas esse sonho ainda estava longe de ser realizado. Somente em 1962 que as pesquisas tiveram grandes avanços, um fisiologista chamado Johannes Kylstra (1925 - 2005) descobriu que ratos cujos os pulmões tinham sido preenchido por uma substancia salina, Ringer-lactato, poderiam sobreviver até 18 horas quando submerso a altas pressões, semelhante às das regiões fundas dos oceanos, mas a pouca solubilidade principalmente do dióxido de carbono em solução salina tornou essa substância inepto para uso. Na mesma década os bioquímicos norte-americanos Leland Clark (1918 - 2005) e Frank Gollan (1910 - 1988) fizeram testes em camundongos e gatos com um líquido chamado Perfluorocarbono (PFC - projeto desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial - Projeto Manhattan) e relataram que estes animais podiam sobreviver por várias horas imerso nesse líquido.

Características:
Os Perfluorocarbonos ou Perfluoroalcanos são uma família de compostos derivados de um Hidrocarboneto, onde os átomo de hidrogênio foram substituídos por átomos de flúor.
Fórmula geral: CnEmc2, n = 15 anos
Semelhantes à água são incolores, inodoros e insípidos. São quimicamente estáveis, têm baixa tensão superficial e sua densidade é maior que a da água, são excelentes para troca de gases como hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e dióxido de carbono.

Estudos científicos realizados nos últimos anos revelaram que em animais com lesão pulmonar a ventilação líquida, quando comparada com a ventilação mecânica convencional, demonstrou melhora na troca gasosa e diminuição de danos aos pulmões. Relatos preliminares revelam que o perfluorocarbono pode ser utilizado com segurança em humanos. A ventilação líquida aumenta a troca gasosa por recrutar regiões do pulmão dependentes da gravidade – em que há perfusão (passagem de líquido), mas não são ventiladas e redistribui o fluxo sanguíneo para as áreas ventiladas. A utilização da ventilação líquida parcial atenua a lesão pulmonar devido à baixa tensão superficial e às propriedades anti-inflamatórias dos PFCs. A utilização de perfluorocarbonos na preservação de órgãos sólidos passou a ser apontada recentemente como alternativa para a proteção da chamada lesão de reperfusão, que compreende vários fenômenos decorrentes da recirculação de sangue em um órgão cuja circulação sanguínea tenha sido interrompida (isquemia). No entanto, sua real utilidade ainda precisa ser definida. Mas o uso de PFCs como carreadores de substâncias diretamente para o pulmão e seu emprego em transplantes do órgão são a grande esperança na melhora da viabilidade pulmonar. Apesar dos inúmeros avanços ocorridos na utilização da ventilação líquida, seu emprego ainda é limitado por diversos fatores, destacando-se entre eles o elevado custo. Sua utilização está restrita a poucos centros de pesquisa, especialmente nos Estados Unidos e no Canadá, onde se utiliza o perfluorobromido (o único PFC liberado para ensaios clínicos). Em outros países são utilizados PFCs ainda considerados não ideais para a ventilação líquida. A dificuldade de manejo dos pacientes submetidos à ventilação líquida também é um fator que restringe sua aplicação.

FONTES:
Brasil Mergulho
Sociedade Brasileira de Pediatria - SBP
Ciência Hoje